O conceito de vontade em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino

Resumo da palestra

 

Para os filósofos gregos antigos, a vontade era um tema secundário, pois o estudo da razão, dos seus atributos e efeitos, pautava o caminhar da filosofia. A partir da filosofia latina, a vontade passa a ser um tema importante, sobretudo com Agostinho de Hipona. Ele foi o primeiro filósofo/teólogo a tratar da vontade como instância independente e significativa na constituição anímica humana, nas relações do homem com os outros e consigo mesmo, e na determinação dos seus atos. A descoberta da vontade como um tema filosófico/teológico relevante se deu na luta que o grande Doutor da Igreja travou no caminho da sua conversão ao Cristianismo.

Agostinho não sistematizou uma teoria da vontade, uma vez que o seu pensamento se insere no contexto amplo de suas ideias; ideias que foram tomando corpo nas controvérsias estabelecidas contra as heresias do seu tempo. Entretanto, suas considerações sobre o tema são seminais para o desenvolvimento posterior do estudo da vontade, que foi integralmente teorizada no pensamento de São Tomás de Aquino. Tanto o desenvolvimento dos graus e dos tipos de apetites que caracterizam a alma humana, quanto o entendimento de como a reta razão auxilia o homem nos caminhos percorridos pela vontade foram definidos pelo Aquinate.

O presente texto tece reflexões sobre o conceito de vontade, iniciando com as contribuições de Agostinho, a saber, a conceituação da vontade como movimento não espacial da alma e a sua importância na constituição do campo ético-moral. A luta da boa vontade contra a má vontade emerge, então, como dilema humano ético-moral, a partir do qual as reflexões agostinianas se voltam à ordenação daquele campo, por meio da Ordo Amoris, para, enfim, entender a busca da felicidade como objeto teleológico do querer humano.

Em São Tomás de Aquino, entretanto, a vontade é eminentemente racional, e, como fim último, tende ao bem. Eis porque, para o Aquinate, os apetites negativos, como a concupiscência e a ira, embora busquem a satisfação imediata, sofrem resistência da razão, ou seja, são mediados pela razão, e por ela são norteados. Entende-se, então, o agir da vontade como o agir racional, que, embora se apresente como livre escolha do arbítrio é precedida de deliberação racional. Finalmente, São Tomás mostra como a prudência se constitui como virtude basilar na constituição da ação ética e moral.

Palavras-chave: vontade, amor, ética, moral.

 

Pe. José Roberto Abreu de Matos Pe. José Roberto Abreu de Matos

Possui Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorado em Filosofia pela Universidade Pontifícia São Tomás de Aquino – Angelicum, de Roma. Atualmente é Pároco da Basílica de Sant’Ana, na Zona Norte de São Paulo; membro do Conselho de Administração da Associação do Museu de Arte Sacra de São Paulo; e Assistente Eclesiástico do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, na Arquidiocese de São Paulo. Também é Professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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